segunda-feira, 27 de junho de 2016

93) BOM ÂNIMO (ótima história! - maravilhosa mensagem!)





8- Bom Ânimo

       O apóstolo Bartolomeu foi um dos mais dedicados discípulos do Cristo, desde os primeiros tempos de suas pregações, junto ao Tiberíades. 
       Todas as suas possibilidades eram empregadas em acompanhar o Mestre, na sua tarefa divina. Entretanto, Bartolomeu era triste e, vezes inúmeras, o Senhor o surpreendia em meditações profundas e dolorosas.  
       Foi, talvez, por isso que, uma noite, enquanto Simão Pedro e sua família se entregavam a inadiáveis afazeres domésticos, Jesus aproveitou alguns instantes para lhe falar mais demoradamente ao coração.  
  
       Após uma interrogativa afetuosa e fraternal, Bartolomeu deixou falasse o seu espírito sensível.   
     - Mestre  exclamou, timidamente —, não saberia nunca explicar-vos o porquê de minhas tristezas amargurosas. Só sei dizer que o vosso Evangelho me enche de esperanças para o Reino de Luz que nos espera os corações, além, nas alturas...
       - Quando esclarecestes que o vosso reino não é deste mundo, experimentei uma nova coragem para atravessar as misérias do caminho da Terra, pois, aqui, o selo do mal parece obscurecer as coisas mais  puras!... Por toda parte, é a vitória do crime, o jogo das ambições, a colheita dos desenganos!...  

       A voz do apóstolo se tornara quase abafada pelas lágrimas. Todavia, Jesus fitou-o brandamente e lhe falou, com serenidade:   
       - A nossa doutrina, entretanto, é a do Evangelho ou da Boa Nova e já viste, Bartolomeu, uma boa notícia não produzir alegria? Fazes bem, conservando a tua esperança em face dos novos ensinamentos; mas, não quero senão acender o bom ânimo no espírito dos meus discípulos. 
       - Se já tive ocasião de ensinar que o meu reino ainda não é deste mundo, isso não quer dizer que eu desdenhe o trabalho de estendê-lo, um dia, aos corações que mourejam na Terra. 
       Achas, então, que eu teria vindo a este mundo, sem essa certeza confortadora? 

       - O Evangelho terá de florescer, primeiramente, na alma das criaturas, antes de frutificar para o espírito dos povos. Mas, venho de meu Pai, cheio de fortaleza e confiança, e a minha mensagem há de proporcionar grande júbilo a quantos a receberem de coração.  
       Depois de uma pausa, em que o discípulo o contemplava silencioso, o Mestre continuou:   
       - A vida terrestre é uma estrada pedregosa, que conduz aos braços amorosos de Deus... 
       ...O trabalho é a marcha... 
       ...A luta comum é a caminhada de cada dia...
       ...Os instantes deliciosos da manhã e as horas noturnas de serenidade são os pontos de repouso; 

       - Mas, ouve-me bem: 
       - Na atividade ou no descanso físico, a oportunidade de uma hora, de uma leve ação, de uma palavra humilde, é o convite de Nosso Pai para que semeemos as suas bênçãos sacrossantas. 
       Em geral, os homens abusam desse ensejo precioso para anteporem a sua vontade imperfeita aos desígnios superiores, perturbando a própria marcha. Daí resultam as mais ásperas jornadas obrigatórias para retificação das faltas cometidas e muitas vezes infrutíferos labores. 
       Em vista destas razões observamos que os viajores da Terra estão sempre desalentados. 
       Na obcecação de sua vontade própria, ferem a fronte nas pedras da estrada,... 
       ...cerram os ouvidos à realidade espiritual,...
       ...vendam os olhos com a sombra da rebeldia e passam em lágrimas, em desesperadas imprecações e amargurados gemidos,...
        ...sem enxergarem a fonte cristalina,...
        ...a estrela caridosa do céu,...
        ...o perfume da flor,...
        ...a palavra de um amigo,...
        ...a claridade das experiências que Deus espalhou, para a sua jornada, em todos os aspectos do caminho.  

       Houve um pequeno intervalo nas considerações afetuosas, depois do que, sem mesmo perceber inteiramente o alcance de suas palavras, Bartolomeu interrogou:   
       - Mestre, os vossos esclarecimentos dissipam os meus pesares; mas o Evangelho exige de nós a fortaleza permanente?   
       - A verdade não exige: transforma, O Evangelho não poderia reclamar estados especiais de seus discípulos; porém, é preciso considerar que a alegria, a coragem e a esperança devem ser traços constantes de suas atividades em cada dia. 
       Por que nos firmarmos no pesadelo de uma hora, se conhecemos a realidade gloriosa da eternidade com o Nosso Pai?
       
       - E quando os negócios do mundo nos são adversos? E quando tudo parece em luta contra nós?  perguntou o pescador, de olhar inquieto.  
       Jesus, todavia, como se percebesse, inteiramente, a finalidade de suas perguntas, esclareceu com bondade:   
       - Qual o melhor negócio do mundo, Bartolomeu?... 
       ...Será a aventura que se efetua a peso de ouro, muita vez amordaçando-se o Coração e a Consciência, para aumentar as preocupações da vida material,...
        ...ou a iluminação definitiva da alma para Deus, que se realiza tão só pela boa-vontade do homem, que deseje marchar para o seu amor, por entre as urzes do caminho? 

       - Não será a adversidade  nos negócios do mundo um convite amigo para a criatura semear com mais amor, um apelo indireto que a arranque das ilusões da Terra para as verdades do reino de Deus?  

       Bartolomeu guardou aquela resposta no coração, não, todavia, sem experimentar certa estranheza. E logo, lembrando-se de que sua genitora partira, havia pouco tempo, para a sombra do túmulo, interpelou ainda, ansioso:   
       - Mestre: não será justificável a tristeza quando perdemos um ente amado?         Jesus, todavia, esclareceu com bondade:
       -  Mas, quem estará perdido, se Deus é o Pai de todos nós?... Se os que estão sepultados no lodo dos crimes hão de vislumbrar, um dia, a alvorada da redenção, por que lamentarmos, em desespero, o amigo que partiu ao chamado do Todo- Poderoso?... 
       
       ...A morte do corpo abre as portas de um mundo novo para a alma...     
       ...Ninguém fica verdadeiramente órfão sobre a Terra, como nenhum ser está abandonado, porque tudo é de Deus e todos somos seus filhos. Eis por que todo discípulo do Evangelho tem de ser um semeador de paz e de alegria!...
  
       Jesus entrou em silêncio, como se houvera terminado a sua exposição judiciosa e serena.  
       E, pois que a hora já ia adiantada, Bartolomeu se despediu. O olhar do Mestre oferecia ao seu, naquela noite, uma luz mais doce e mais brilhante; suas mãos lhe tocaram os ombros, levemente, deixando-lhe uma sensação salutar e desconhecida.  

       Embora nascido em Caná da Galiléia, Bartolomeu residia, então, em Damanuta, para onde se dirigiu, meditando gravemente nas lições que havia recebido. A noite pareceu-lhe formosa como nunca. No alto, as estrelas se lhe afiguravam as luzes gloriosas do palácio de Deus à espera das suas criaturas, com hinos de alegria. As águas do Genesaré, aos seus olhos, estavam mais plácidas e felizes. Os ventos brandos lhe sussurravam ao entendimento cariciosas inspirações, como um correio delicado que chegasse do céu.  

       Bartolomeu começou a recordar as razões de suas tristezas intraduzíveis, mas, com surpresa, não mais as encontrou no coração. Lembrava-se de haver perdido a afetuosa genitora; refletiu, porém, com mais amplitude, quanto aos desígnios da Providência Divina. 
       Deus não lhe era pai e mãe nos céus? Recordou os contratempos da vida e ponderou que seus irmãos pelo sangue o aborreciam e caluniavam. Entretanto, Jesus não lhe era um irmão generoso e sincero? Passou em revista os insucessos materiais. Contudo, que eram as suas pescarias ou a avareza dos negociantes de Betsaida e de Cafarnaum, comparados à luz do reino de Deus, que ele trabalhava por edificar no coração?  

       Chegou a casa pela madrugada. Ao longe, os primeiros clarões do Sol lhe pareciam mensageiros ao conforto celestial. O canto das aves ecoava em seu espírito como notas harmoniosas de profunda alegria. O próprio mugido dos bois apresentava nova tonalidade aos seus ouvidos. 
       Sua alma estava agora clara; o coração, aliviado e feliz.  Ao ranger os gonzos da porta, seus irmãos dirigiram-lhe impropérios, acusando-o de mau filho, de vagabundo e traidor da lei. 
       Bartolomeu, porém, recordou o Evangelho e sentiu que só ele tinha bastante alegria para dar a seus irmãos. 

       Em vez de reagir asperamente, como de outras vezes, sorriu-lhes com a bondade das explicações amigas. 
       Seu velho pai o acusou, igualmente, escorraçando-o. O apóstolo, no entanto, achou natural. Seu pai não conhecia a Jesus,... e ele O conhecia. 
       Não conseguindo esclarecê-los, guardou os bens do silêncio e achou-se na posse de uma alegria nova. 
       Depois de repousar alguns momentos, tomou as suas redes velhas e demandou sua  barca. 

       Teve para todos os companheiros de serviço uma frase consoladora e amiga. O lago como que estava mais acolhedor e mais belo; seus camaradas de trabalho, mais delicados e acessíveis. 
       De tarde, não questionou com os comerciantes, enchendo-lhes, aliás, o espírito de boas palavras e de atitudes cativantes e educativas.  Bartolomeu havia convertido todos os desalentos num cântico de alegria, ao sopro regenerador dos ensinamentos do Cristo; todos o observaram com admiração, exceto Jesus, que conhecia, com júbilo, a nova atitude mental de seu discípulo.  
        
       No sábado seguinte, o Mestre demandou as margens do lago, cercado de seus numerosos seguidores. Ali, aglomeravam-se homens e mulheres do povo, judeus e funcionários de Ântipas, a par de grande número de soldados romanos.         Jesus começou a pregar a Boa Nova e, a certa altura, contou, conforme a narrativa de Mateus, que  “o Reino dos Céus é semelhante a um tesouro que, oculto num campo, foi achado e escondido por um homem que, movido de gozo, vendeu tudo o que possuía e comprou aquele campo”.  

       Nesse instante, o olhar do Mestre pousou sobre Bartolomeu que o contemplava, embevecido; a Luz branda de seus olhos generosos penetrou fundo no íntimo do apóstolo, pela ternura que evidenciava,... e o pescador humilde compreendeu a delicada alusão do ensinamento, experimentando a alma leve e satisfeita, depois de haver alijado todas as vaidades de que ainda se não desfizera, para adquirir o tesouro divino, no campo infinito da vida.     

       Enviando a Jesus um olhar de amor e reconhecimento, Bartolomeu limpou uma lágrima. Era a primeira vez que chorava de alegria. O pescador de Dalmanuta aderira, para sempre, aos eternos júbilos do Evangelho do Reino.

do livro- BOA NOVA - Pelo Espírito-  HUMBERTO DE CAMPOS  
psicografia-Francisco Cândido Xavier 

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