quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

85) A Preleção De Eusébio (Excelente)







Colonia Espiritual de NOSSO LAR


A Preleção De Eusébio cap. 2
Francisco Cândido Xavier    
do livro - No Mundo Maior 
(Ditado pelo Espírito André Luiz) 

     2.  A preleção de Eusébio 

     Ereto, incendido o tórax de suave luz, falou o Instrutor, comovedoramente:
        – “Dirigimo-nos a vós, irmãos, que tendes, por enquanto, ensejo de aprender na bendita escola carnal. 

     “Tangidos pela necessidade, na sede de ciência ou na angústia do amor que transpõe abismos, vencestes pesadas fronteiras vibra tórias, encontrando-vos na estaca zero do caminho diferente que se vos antolha. Enquanto vossa organização fisiológica repousa a distância, exercitando-se para a morte, vossas almas quase libertas partilham conosco a fraternidade e a esperança, adestrrando faculdades e sentimentos para a verdadeira vida.
      “Naturalmente, não podereis guardar plena recordação desta hora, em retomando o envoltório carnal, em virtude da deficiência do cérebro, incapaz de suportar a carga de duas vidas simultâneas; a lembrança de nosso entendimento persistirá, contudo, no fundo de vosso ser, orientando-vos as tendências superiores para o terreno da elevação e abrindo-vos a porta intuitiva para que vos assista nosso pensamento fraternal.” 

     O orador fez breve pausa, fixando-nos o olhar calmo e lúcido, e, sob a leve e incessante chuva de raios argênteos, continuou: 
     – “Enfastiados das repetidas sensações no plano grosseiro da existência, intentais pisar outros domínios. Buscais a novidade, o conforto desconhecido, a solução de torturantes enigmas; 
     todavia, não olvideis que a chama do próprio coração, convertido em santuário de claridade divina, é a única lâmpada capaz de iluminar o mistério espiritual, em nossa marcha pela senda redentora e evolutiva. 

     Ao lado de cada homem e de cada mulher, no mundo,permanece viva a Vontade de Deus, relativamente aos deveres que lhes cumprem. Cada qual tem à sua frente o serviço que lhe compete, como cada dia traz consigo possibilidades especiais de realização no bem. 
     O Universo enquadra-se na ordem absoluta. 
     Aves livres em limitados céus, interferimos no plano divino, criando para nós prisões e liames, libertação e enriquecimento. 
     Insta, pois, nos adaptemos ao equilíbrio divino, atendendo à função insulada que nos cabe, em plena colméia da vida. 

     “Desde quando fazemos e desfazemos, terminamos e recomeçamos, empreendemos a viagem reparadora e regressamos, perplexos, para o reinício?      Somos, no palco da Crosta planetária, os mesmos atores do drama evolutivo. 
     Cada milênio é ato breve, cada século um cenário veloz. Utilizando corpos sagrados, perdemos, entretanto, quais despreocupadas crianças, entretidas apenas em jogos infantis, o ensejo santificante da existência; destarte, fazemo-nos réprobos das leis soberanas, que nos enredam aos escombros da morte, como náufragos piratas por muito tempo indignos do retorno às lides do mar. 

     Enquanto milhões de almas desfrutam bons ensejos de emenda e reajustamento, de novo entregues ao esforço regenerativo nas cidades terrestres, milhões de outras deploram a própria derrota, perdidas no atro- recesso da desilusão e do padecimento. 
     “Não nos reportamos aqui aos missionários heróicos que suportam as sangrentas feridas dos testemunhos angustiosos, por espírito de renúncia e de amor, de solidariedade e de sacrifício; são luzes provisoriamente apartadas da Luz Divina e que voltam ao domicílio celeste, como o trabalhador fiel regressa ao lar, finda a cotidiana tarefa. 
     
     “Referimo-nos às bastas multidões de almas indecisas, presas da ingratidão e da dúvida, da fraqueza e da dissipação, almas formadas à luz da razão, mas escravizadas à tirania do instinto.” 
     E num rasgo de humildade cristã, Eusébio continuou: 
     - “Falamos de todos nós, viajores que extravagamos no deserto da própria negação; de nós, pássaros de asas partidas, que tentamos voar ao ninho da liberdade e da paz, e que, no entanto, ainda nos debatemos no chavascal dos prazeres de ínfima estofa. 
     Porque não represar o curso das paixões corrosivas que nos flagelam o espírito? Porque não sofrear o ímpeto da animalidade, em que nos comprazemos, desde os primeiros laivos de raciocínio? 
     
     Sempre o terrível dualismo da luz e das trevas, da compaixão e da perversidade, da inteligência e do impulso bestial. Estudamos a ciência da espiritualidade consoladora desde os primórdios da razão e, todavia, desde as épocas mais remotas, consagramo-nos ao aviltamento e ao morticínio.    
     “Cantávamos hinos de louvor com Krishna, aprendendo o conceito da imortalidade da alma, à sombra das árvores augustas que aspiram aos cimos do Himalaia, e descíamos, logo depois, ao vale do Ganges, matando e destruindo para gozar e possuir. 
     Soletrávamos o amor universal com Sidarta Gautama e perseguíamos os semelhantes, em aliança com os guerreiros cingaleses e hindus. 
     Fomos herdeiros da Sabedoria, nos tempos distantes da Esfinge, e, no entanto, da reverência aos mistérios da iniciação, passávamos à hostilidade sanguissedenta, nas margens do Nilo. 
     Acompanhando a arca simbólica dos hebreus, reiteradas vezes líamos os mandamentos de Jeová, contidos nos rolos sagrados, e, desatentos, os esquecíamos, ao primeiro clangor de guerra aos filisteus. 

     Chorávamos de comoção religiosa em Atenas e assassinávamos nossos irmãos em Esparta. Admirávamos Pitágoras, o filósofo, e seguíamos Alexandre, o conquistador. 
     Em Roma, conduzíamos oferendas valiosas aos deuses, nos maravilhosos santuários, exaltando a virtude, para desembainhar as armas, minutos depois, no átrio dos templos, disseminando a morte e entronizando o crime; escrevía- mos formosas sentenças de respeito à vida, com Marco Aurélio, e ordenávamos a matança de pessoas limpas de culpa e úteis à sociedade. 

     Com Jesus, o Divino Crucificado, nossa atitude não tem sido diferente. Sobre os despojos dos mártires, imolados nos circos, vertemos rios de sangue em vindita cruel, armando fogueiras do sectarismo religioso. Suportamos administradores arbitrários e ignominiosos, de Nero a Diocleciano, porque tínhamos fome de poder, e quando Constantino nos abriu as portas da do- minação política, convertemo-nos de servos aparentemente fiéis ao Evangelho em criminosos árbitros do mundo. 

     Pouco a pouco esquecemos os cegos de Jericó, os paralíticos de Jerusalém, as crianças do Tiberíades, os pescadores de Cafarnaum, para afagar as testas coroadas dos triunfadores, embora soubéssemos que os vencedores da Terra não podem fugir à peregrinação ao sepulcro. 
     Tornou-se a idéia do Reino de Deus, fantasia de ingênuos, pois não largávamos o lado direito dos príncipes, sequiosos de fastígio mundano. 
     Ainda hoje, decorridos quase vinte séculos sobre a cruz do Salvador, benzemos baionetas e canhões, metralhadoras e tanques de assalto, em nome do Pai Magnânimo, que faz refulgir o sol da misericórdia sobre os justos e sobre os injustos. 

     “É por esta razão que nossos celeiros de luz permanecem vazios. O vendaval das paixões fulminantes de homens e de povos passa ululante, de um a outro pólo, a semear maus presságios. “Até quando seremos gênios demolidores e perversos? Ao invés de servos leais do Senhor da Vida, temos sido soldados dos exércitos da ilusão, deixando à retaguarda milhões de túmulos, abertos sob aluviões de cinza e fumo. 
     Debalde exortou-nos o Cristo a buscar as manifestações do Pai em nosso próprio íntimo. Cevamos e expandimos unicamente o egoísmo e a ambição, a vaidade e a fantasia na Crosta Planetária. 
     
     Contraímos pesados débitos e escravizamo-nos aos tristes resultados de nossas obras, deixando-nos ficar, indefinidamente, na messe dos espinhos. 
     
     - “Foi assim que atingimos a época moderna, em que a loucura se generaliza e a harmonia mental do homem está a pique desoçobro. 
     De cérebro evolvido e coração imaturo, requintamo-nos, presentemente, na arte de esfacelar o progresso espiritual.” 

     O excelso orientador deu à oração mais longo intervalo, durante o qual observei companheiros em torno. Homens e mulheres, segurando alguns fortemente as mãos uns dos outros, exibiam extrema palidez no semblante estarrecido. Alguns deles, por certo, compareciam ali pela primeira vez, como eu, dado o extático assombro que se lhes estampava no rosto. Fixando na assembléia o olhar percuciente, o Instrutor prosseguiu: 
     
      – “Nos séculos pretéritos, as cidades florescentes do mundo desapareciam pelo massacre, ao gládio dos conquistadores sem entranhas, ou estacionavam sob a onda mortífera da peste desco nhecida e não atacada. 
     Hoje, as coletividades humanas ainda sofrem o assédio da espada homicida e chuvas de bombas arremetem contra populações indefesas; no entanto, a febre amarela, a cólera e a varíola foram dominadas; a lepra, a tuberculose e o câncer experimentam combate sem tréguas. 
       Existe, porém, nova ameaça ao domicílio terrestre: 

     - O profundo desequilíbrio, a desarmonia generalizada, as moléstias da alma que se ingerem, sutis, solapando-vos a estabilidade. 
     “Vossos caminhos não parecem percorridos por seres conscientes, mas semelham-se a estranhas veredas, ao longo das quais tripudiam duendes alucinados. 
      Como fruto de eras sombrias, caracterizadas pela opressão e maldade recíprocas, em que temos vivido, odiando-nos uns aos outros, vemos a Terra convertida em campo de quase intérminas hostilidades. Homens e nações perseguem o mito do ouro fácil; criaturas sensíveis abandonam-se aos distúrbios das paixões; cérebros vigorosos perdem a visão interior, enceguecidos pelos enganos da personalidade e do autoritarismo. 
     Empenhados em disputas intermináveis, em duelos formidandos de opinião, conduzidos por desvairadas ambições inferiores, os filhos da Terra abeiram-se de novo abismo, que o olhar conturbado não lhes deixa perceber. 

       Esse hiante vórtice, meus irmãos, é o da alienação mental, que não nos desintegra só os patrimônios celulares da vida física, senão também nos atinge o tecido sutil da alma, invadindo-nos o cerne do corpo perispiritual. Quase todos os quadros da civilização moderna se acham comprometidos na estrutura fundamental. 
       Precisamos, pois, mobilizar todas as forças ao nosso alcance, a serviço da causa humana, que é a nossa própria causa.

      “O trabalho salvacionista não é exclusividade da religião: - constitui ministério comum a todos, porque dia virá em que o homem há de reconhecer a Divina Presença em toda a parte. 
      A realização que nos compete não se filia ao particularismo: - é obra genérica para a coletividade, esforço do servidor honesto e sincero, interessado no bem de todos. 
      “Se visitais a nossa companhia buscando orientação para o trabalho sublime do espírito, não vos esqueça vossa luz própria. 
      Não conteis com archotes alheios para a jornada. 

       Em míseros planos de sofrimento regenerador, nas vizinhanças da carne, choram amargamente milhões de homens e de mulheres que abusaram do concurso dos bons, precipitando-se nas trevas ao perder no túmulo os olhos efêmeros com que apreciavam a paisagem da vida à luz do Sol. Displicentes e recalcitrantes, esquivaram-se a todas as oportunidades de acender a própria lâmpada. 
       Aborreciam os atritos da luta, elegeram o gozo corporal como objetivo supremo de seus propósitos na Terra; e, quando a morte lhes cerrou as pálpebras saciadas, passaram a conhecer uma noite mais longa e mais densa, referta de angústias e de pavores.

       ” Nesse momento, Eusébio interrompeu-se por mais de um minuto, como a recordar cenas comovedoras que as imagens de seu verbo evocavam, demonstrando certa vaguidade no olhar. Notei a ansiedade com que a assembléia aguardava o retorno de sua palavra. Damas sensibilizadas ressumbravam forte impressão nas fisionomias transfiguradas e todos nós, ante a exposição leal e comovente, nos mantínhamos quedos e aturdidos. 
     Decorridos longos segundos, o orador prosseguiu com inflexão enérgica e patriarcal: 

       – “Procurais conosco a precisa orientação para os trabalhos que vos tangem presentemente na Crosta da Terra. Seduzidos pela claridade da Esfera Superior, fascinados pelas primeiras noções do Amor Universal, desejais a graça da cooperação na sementeira do porvir. 
        Reclamais asas para os surtos sublimes, tendes em mira coadjuvar no esforço de elevação. 
       “Indubitavelmente, a intenção não pode ser mais nobre; é, entretanto, indispensável considereis a vossa necessidade de integração no dever de cada dia. 
       Impossível é progredir no século, sem atender às obrigações da hora. Torna-se imprescindível, na atualidade, recompor as energias, reajustar as aspirações e santificar os desejos. 
       “Não basta crer na imortalidade da alma. Inadiável é a iluminação de nós mesmos, a fim de que sejamos claridade sublime. 
        Não basta, para o arrojado cometimento da redenção, o simples reconhecimento da sobrevivência da alma e do intercâmbio entre os dois mundos. Os levianos e os maus, os ignorantes e os estultos, podem corresponder-se igualmente a distância, de país a país. 
        

       Antes de mais nada importa elevar o coração, romper as muralhas que nos encerram na sombra, esquecer as ilusões da posse, dilacerar os véus espessos da vaidade, abster-se do letal licor do personalismo aviltante, para que os clarões do monte refuljam no fundo dos vales, a fim de que o sol eterno de Deus dissipe as transitórias trevas humanas.
       -  “Vanguardeiros da fé viva, que o desejais ser doravante no mundo, não obstante os percalços que se nos defrontam, exige-se de vós a cabal demonstração de estardes certos da espiritualidade divina. 
       “O Plano Superior não se interessa pela incorporação de devotos famintos de um paraíso beatifico. 
       Admitiríeis, porventura, vossa permanência na Crosta Planetária, sem finalidades específicas? 

       Se a erva tenra deve produzir consoante objetivos superiores, que dizer da magnífica inteligência do homem encarnado? 
       Que não há que esperar da razão iluminada pela fé! 
       Receberíamos tão sagrados depósitos de conhecimento edificante para um sacrifício por nada? 
       Teríamos o aljôfar de tais bênçãos para fortalecer o propósito egoístico de alcançar o céu sem escalas preparatórias, sem atividades purificadoras? 

       “Nossa meta, meus amigos, não se compadece com o exclusivismo ególatra. A Porta Divina não se abre a espíritos que se não divinizaram pelo trabalho incessante de cooperação com o Pai Altíssimo
       E o solo do Planeta, a que vos prendeis provisoriamente, representa o abençoado círculo de colaboração que o Senhor vos confia. 
       Recolhei o orvalho celeste no escrínio do coração sedento de paz; contemplai as estrelas que nos acenam de longe, como sublimes ápices da Divindade; todavia, não olvideis o campo de lutas presentes. 

       “O espiritualismo, nos tempos modernos, não pode restringir Deus entre as paredes de um templo da Terra, porque a nossa missão essencial é a de converter toda a Terra no templo Augusto de Deus. 

       “Para a nossa vanguarda de obreiros decididos e valorosos passou a face de experimentação fútil, de investigações desordenadas, de raciocínios periféricos. 
       Vivemos a estruturação de sentimentos novos, argamassando as colunas do mundo vindouro, com a luz acesa em nosso campo íntimo. 
       Natural é que os aprendizes recém-chegados experimentem, examinem, operem sondagens e evoquem teorias brilhantes, em que as hipóteses concorram ao lado da exibição personalista: compreensível e razoável. 
       Toda escola caracteriza-se pelos diversos cursos, que lhe formam os quadros e as disciplinas. 
   
       Não nos dirigimos aqui, porém, aos que ainda sonham na clausura do eu, enredados nos mil obstáculos da fantasia que lhes cristaliza as impressões. Falamos a vós outros, que sentis a sede de universalismo, anônimos companheiros da humanidade que se esforça por emergir das trevas para a luz.        Como aceitardes a estagnação como princípio e a felicidade exclusivista como fim? 

       “Alimentemos a esperança renovadora. Não invoqueis Jesus para justificar anseios de repouso indébito. 
       Ele não atingiu as culminâncias da Ressurreição sem subir ao Calvário e as suas lições referem-se à fé que transporta montanhas. 
       “Não reclamemos, pois, ingresso em mundos felizes, antes de melhorar o nosso próprio mundo. 
       Esquecei o velho erro de que a morte do corpo constitui milagrosa imersão da alma no rio do encantamento. 
        Rendamos culto à vida permanente, à justiça perfeita, e adaptemo-nos à Lei que nos apreciará o mérito sempre de conformidade com as nossas próprias obras. 
       
       “Nosso ministério é de iluminação e de eternidade. 
       “O Governo Universal não nos circunscreveu as atividades à guarda de altares perecíveis. Não fomos convocados a velar no círculo particular duma interpretação exclusivista, senão a cooperar na libertação do espírito encarnado, abrindo horizontes mais claros à razão humana, refazendo o edifício da fé redentora que as religiões literalistas esqueceram. 
       “Sopros imensos da onda evolucionista varrem os ambientes da Terra.    
       Todos os dias ruem princípios convencionais, mantidos a titulo de invioláveis durante séculos. 
       A mente humana, perplexa, é compelida a transições angustiosas. 
       A subversão de valores, a experiência social e o processo acelerado de seleção pelo sofrimento coletivo perturbam os tímidos e os invigilantes, que representam esmagadora maioria em toda parte... 
       
       Como atender a esses milhões de necessitados espirituais, se não receberdes a responsabilidade do socorro fraterno? 
       Como sanar a loucura incipiente, se não vos transformardes em ímãs que mantenham o equilíbrio? 
       Sabemos que a harmonia interior não é artigo de oferta e procura nos mercados terrestres, mas aquisição espiritual só acessível no templo do Espírito.        
       “Faz-se, pois, mister acendamos o coração em amor fraternal, à frente do serviço. 

       Não bastará, em nossas realizações, a crença que espera; indispensável é o amor que confia e atende, transforma e eleva, como vaso legítimo da Sabedoria Divina. 
       “Sejamos instrumentos do bem, acima de expectantes da graça. 
       A tarefa demanda coragem e suprema devoção a Deus. 
       Sem que nos convertamos em luz, no círculo em que estivermos, em vão acometeremos a sombra, aos nossos próprios pés. 
       E, no prosseguimento da ação que nos compete, não nos esqueçamos de que a evangelização das relações entre as esferas visíveis e invisíveis é dever tão natural e tão inadiável da tarefa quanto a evangelização das pessoas.
   
       “Não busqueis o maravilhoso: a sede do milagre pode viciar-vos e perder-vos. “Vinculai-vos, pela oração e pelo trabalho construtivo, aos planos superiores e estes vos proporcionarão contacto com os Armazéns Divinos, que suprem a cada um de nós segundo a justa necessidade. 
       “As ordenações que vos ajoujam na paisagem terrena, por mais ásperas ou desagradáveis, representam a Vontade Suprema. 
       “Não galgueis os obstáculos, nem tenteis contorná-los pela fuga deliberada: vencei-os, utilizando a vontade e a perseverança, ensejando crescimento aos vossos próprios valores.


       “Cuidai em não transitar sem a devida prudência nos caminhos da carne, em que, muita vez, imitais a mariposa estouvada. Atendei as exigências de cada dia, rejubilando-vos por satisfazer as tarefas mínimas. 
       “Não intenteis o vôo sem haver aprendido a marcha. “Sobretudo, não indagueis de direitos prováveis que vos caberiam no banquete divino, antes de liquidar os compromissos humanos. 
       “Impossível é o título de anjos, sem serdes, antes, criaturas ponderadas.    
       “Soberanas e indefectíveis leis nos presidem aos destinos. 
       Somos conhecidos e examinados em toda parte. 

       “As facilidades concedidas aos espíritos santificados, que admiramos, são prodigalizadas a nós, por Deus, em todos os lugares. O aproveitamento, porém, é obra nossa. 
       As máquinas terrestres podem alçar-vos o corpo físico a consideráveis alturas, mas o vôo espiritual, com que vos libertareis da animalidade, jamais o desferireis sem asas próprias. 
       “A consolação e a amizade de benfeitores encarnados e desencarnados enriquecer-vos-ão de conforto, quais suaves e abençoadas flores da alma; entretanto, fenecerão como as rosas de um dia, se não fertilizardes o coração com a fé e o entendimento, com a esperança inquebrantável e o amor imortal, sublimes adubos que lhes propiciem o desenvolvimento no terreno do vosso esforço sem tréguas. 

       “Não cobiceis o repouso das mãos e dos pés; antes de abrigar semelhante propósito, procurai a paz interior na suprema tranqüilidade da consciência.    
        “Abandonai a ilusão, antes que a ilusão vos abandone.
        “Empolgando a chefia da própria existência, deixai plantado o bem na esteira de vossos passos. 
        “Somente os servos que trabalham gravam no tempo os marcos da evolução; só os que se banham no suor da responsabilidade conseguem cunhar novas formas de vida e de ideal renovador. 

       Os demais, chamem-se monarcas ou príncipes, ministros ou legisladores, sacerdotes ou generais, entregues à ociosidade, classificam- se na ordem dos sugadores da Terra; não chegam a assinalar sua permanência provisória na Crosta do Planeta; adejam como insetos multicores, tornando à poeira de que se alçaram por alguns minutos. 
       “Regressando, pois, ao corpo de carne, valei-vos da luz para as edificações necessárias. 
       “Participemos do glorioso Espírito do Cristo. “Convertamo-nos em claridade redentora. 
       
       “O desequilíbrio generalizado e crescente invade os departamentos da mente humana. Combatem-se, desesperadamente, as nações e as ideologias, os sistemas e os princípios. 
       Estabelecida a trégua nas lutas internacionais, surgem deploráveis guerras civis, armando irmãos contra irmãos. 
       A indisciplina fomenta greves, a ânsia de libertação perturba o domicílio dos povos. 
       Guerreiam-se as esferas de ação entre si; encarnados e desencarnados de tendências inferiores colidem ferozmente, aos milhões. 

       Inúmeros lares transformam-se em ambientes de inconformação e desarmonia. 
       Duela o homem consigo mesmo no atual processo acelerado de transição.          “Equilibrai-vos, pois, na edificação necessária, convictos de que é impossível confundir a Lei ou trair-lhe os ditames universais!”

       Eusébio proferiu bela e sentida prece, invocando as bênçãos divinas para a assembléia. Sublimes manifestações de luz fizeram-se, então, sentir sobre nós. Encerrados os trabalhos, os companheiros ainda presos ao círculo carnal começaram a retirar-se em respeitoso silêncio. 

Francisco Cândido Xavier    
do livro - No Mundo Maior 
(Ditado pelo Espírito André Luiz) 

domingo, 14 de fevereiro de 2016

84) Capítulo VII - Bem-Aventurados Os Pobres De Espírito (Da Lei de Ação E Reação) (EXCELENTE!)



Capítulo VII - Bem-Aventurados Os Pobres De Espírito 


       7. Disse, então, Jesus estas palavras: "Graças te rendo, meu Pai, Senhor do céu e da Terra, por haveres ocultado estas coisas aos doutos e aos prudentes e por as teres revelado aos simples e aos pequenos." (S. MATEUS, cap. XI, v. 25.)         

       12. Homens, por que vos queixais das calamidades que vós mesmos amontoastes sobre as vossas cabeças? Desprezastes a santa e divina moral do Cristo; não vos espanteis, pois, de que a taça da iniquidade haja transbordado de todos os lados. Generaliza-se o mal-estar.       
       A quem inculpar, senão a vós que incessantemente procurais esmagar-vos uns aos outros?       
       Não podeis ser felizes, sem mútua benevolência; mas, como pode a benevolência coexistir com o orgulho?       
       

       O orgulho, eis a fonte de todos os vossos males. Aplicai-vos, portanto, em destruí-lo, se não lhe quiserdes perpetuar as funestas conseqüências.       
       Um único meio se vos oferece para isso, mas infalível: tomardes para regra invariável do vosso proceder a lei do Cristo, lei que tendes repelido ou falseado em sua interpretação.         
       
Por que haveis de ter em maior estima o que brilha e encanta os olhos, do que o que toca o coração? Por que fazeis do vício na opulência objeto das vossas adulações, ao passo que desdenhais do verdadeiro mérito na obscuridade?         
       Apresente-se em qualquer parte um rico debochado, perdido de corpo e alma, e todas as portas se lhe abrem, todas as atenções são para ele, enquanto ao homem de bem, que vive do seu trabalho, mal se dignam todos de saudá-lo com ar de proteção.                 

       Quando a consideração dispensada aos outros se mede pelo ouro que possuem ou pelo nome de que usam, que interesse podem eles ter em se corrigirem de seus defeitos?         
       Dar-se-ia o inverso, se a opinião geral fustigasse o vicio dourado, tanto quanto o vicio em andrajos; mas, o orgulho se mostra indulgente para com tudo o que o lisonjeia.         

       Século de cupidez e de dinheiro, dizeis. Sem dúvida;         
       ...mas por que deixastes que as necessidades materiais sobrepujassem o bom senso e a razão?         
       Por que há de cada um querer elevar-se acima de seu irmão?         Desse fato sofre hoje a sociedade as conseqüências.         
       Não esqueçais que tal estado de coisas é sempre sinal certo de decadência moral.         

       Quando o orgulho chega ao extremo, tem-se um indicio de queda próxima, porquanto Deus nunca deixa de castigar os soberbos.         
       Se por vezes consente que eles subam, é para lhes dar tempo a reflexão e a que se emendem, sob os golpes que de quando em quando lhes desfere no orgulho para os advertir.         
       Mas, em lugar de se humilharem, eles se revoltam. Então, cheia a medida, Deus os abate completamente e tanto mais horrível lhes é a queda, quanto mais alto hajam subido.         

       Pobre raça humana, cujo egoísmo corrompeu todas as sendas, toma novamente coragem, apesar de tudo. Em sua misericórdia infinita, Deus te envia poderoso remédio para os teus males, um inesperado socorro à tua miséria.         
       Abre os olhos à luz: aqui estão as almas dos que já não vivem na Terra e que te vêm chamar ao cumprimento dos deveres reais.         

       Eles te dirão, com a autoridade da experiência, quanto as vaidades e as grandezas da vossa passageira existência são mesquinhas a par da eternidade.         Dir-te-ão que,... lá, o maior é aquele que haja sido o mais humilde entre os pequenos deste mundo...         

       ...que aquele que mais amou os seus irmãos será também o mais amado no céu;         
       ...que os poderosos da Terra, se abusaram da sua autoridade, ver-se-ão reduzidos a obedecer aos seus servos;         
       ...que, finalmente, a humildade e a caridade, irmãs que andam sempre de mãos dadas, são os meios mais eficazes de se obter graça diante do Eterno. - 
Adolfo, bispo de Argel. (Marmande, 1862.)

Do livro “Evangelho Segundo O Espiritismo” Capítulo VII - Bem-Aventurados Os Pobres De Espírito 

(Da Lei de Ação E Reação)

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

83) O ENCONTRO DIVINO (linda história!!!)


21 - O  ENCONTRO  DIVINO

           Quando o cavaleiro D'Arsonval, valoroso senhor em França, se ausentou do medievo domicílio, pela primeira vez, de armadura fulgindo ao Sol, dirigia-se à Itália para solver urgente questão política.   
        Eminente cristão, trazia consigo um propósito central - servir ao Senhor, fielmente, para encontrá-lo.   
        Não longe de suas portas, viu surgir, de inesperado, ulceroso mendigo a estender-lhe as mãos descarnadas e súplices.   
     Quem seria semelhante infeliz a vaguear sem rumo?   Preocupava-o serviço importante, em demasia, e, sem se dignar fixá-lo, atirou-lhe a bolsa farta.   

        O nobre cavaleiro tornou ao lar e, mais tarde, menos afortunado nos negócios, deixou, d& novo, a casa.   Demandava a Espanha, em missão de prelados amigos, aos quais se devotara.   
        No mesmo lugar, postava-se, o infortunado pedinte, com os braços em rogativa.  O fidalgo, intrigado, revolveu grande saco de viagem e dele retirou pequeno brilhante, arremessando-o ao triste caminheiro que parecia devorá-lo com o olhar.   

        Não se passou muito tempo e o castelão, menos feliz no círculo das finanças, necessitou viajar para a Inglaterra, onde pretendia solucionar vários problemas, alusivos à organização doméstica.   
        No mesmo trato de solo, é surpreendido pelo amargurado leproso, cuja velha petição se ergue no ar.   O cavaleiro arranca do chapéu estimada jóia de subido valor e projeta-a sobre o conhecido romeiro, orgulhosamente. 

       Decorridos alguns meses, o patrão feudal se movimenta na direção de porto distante, em busca de precioso empréstimo, destinado à própria economia, ameaçada de colapso fatal, e, no mesmo sitio, com rigorosa precisão, é interpelado pelo mendigo, cujas mãos, em chagaberta, se voltam ansiosas para ele.
        D'Arsonval, extremamente dedicado à caridade, não hesita. Despe fino manto e entrega-o, de longe, receando-lhe o contacto.   Depois de um ano, premido por questões de imediato interesse, vai a Paris invocar o socorro de autoridades e, sem qualquer alteração, é defrontado pelo mesmo lázaro, de feição dolorida, que lhe repete a antiga súplica.   

        O Castelão atira-lhe um gorro de alto preço, sem qualquer pausa no galope, em que seguia, presto.   Sucedem-se os dias e o nobre senhor, num ato de fé, abandona a respeitada residência, com séqüito festivo.   
        Representará os seus, junto à expedição de Godofredo de Bonillon, na cruzada com que se pretende libertar os Lugares Santos.   No mesmo ângulo da estrada, era aguardado pelo mendigo, que lhe reitera a solicitação em voz mais triste.   
        O ilustre viajor dá-lhe, então, rico farnel, sem oferecer-lhe a mínima atenção.   

        E, na Palestina, D'Arsonval combateu valorosamente, caindo, ferido, em poder dos adversários.   Torturado, combalido e separado de seus compatriotas, por anos a fio, padeceu miséria e vexame, ataques e humilhações, até que, um dia, homem convertido em fantasma, torna ao lar que não o reconhece.            
        Propalada a falsa notícia de sua morte, a esposa deu-se pressa em substituí-lo, à frente da casa, e seus filhos, revoltados, soltaram cães agressivos que o dilaceraram, cruelmente, sem comiseração para com o pranto que lhe escorria dos olhos semimortos.   

        Procurando velhas afeições, sofreu repugnância e sarcasmo.   Interpretado, agora, à conta de louco, o ex-fidalgo, em sombrio crepúsculo, ausentou-se, em definitivo, a passos vacilantes...  
        Seguir para onde? O mundo era pequeno demais para conter-lhe a dor.   Avançava, penosamente, quando encontrou o mendigo.   

        Relembrou a passada grandeza e atentou para ai mesmo, qual se buscasse alguma coisa para dar.   Contemplou o infeliz pela primeira vez e, cruzando com ele o olhar angustiado, sentiu que aquele homem, chagado e sozinho, devia ser seu irmão. 

        Abriu os braços e caminhou para ele, tocado de simpatia, como se quisesse dar-lhe o calor do próprio sangue. Foi, então, que, recolhido no regaço do companheiro que considerava leproso, dele ouviu as sublimes palavras:

      - D'Arsonval, vem a mim! Eu sou Jesus, teu amigo. Quem me procura no serviço ao próximo, mais cedo me encontra... 
       Enquanto me buscava à distância, eu te aguardava, aqui tão perto! Agradeço o ouro, as jóias, o manto, o agasalho e o pão que me deste, más há muitos anos te estendia os meus braços, esperando o teu próprio coração!.. .   

        O antigo cavaleiro nada mais viu senão vasta senda de luz, entre a Terra e o Céu... Mas, no outro dia, quando os semeadores regressavam às lides do campo, sob a claridade da aurora, tropeçaram no orvalhado caminho com um cadáver.   
        D'Arsonval estava morto.  

 do livro  CONTOS E APÓLOGOS   
PELO ESPÍRITO IRMÃO X
psicografia de FRANCISCO CANDIDO XAVIER

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